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Não tenha medo da morte, tenha medo de viver uma vida sem sentido

Costumo escrever tantas coisas diferentes nesse blog: redes sociais, marca pessoal, foco, hábitos… E agora quero compartilhar meus aprendizados sobre o livro: A morte é um dia que vale a pena viver.

Opa, calma lá Priscila! “Morte”?

Sim, me explico.

Tive aula sobre Ciclo Vital, no curso de psicologia, e fiquei apaixonada pelo tema, principalmente quando se fala sobre morte, luto e tratamento paliativo. Ninguém gosta de falar sobre isso. “Vai que atrai” diria as pessoas menos auspiciosas…

A questão é que esse assunto sempre me interessou. Quando eu tinha 15 anos, havia aulas de psicologia no colégio e me lembro da professora Sabrina. Ela nos apresentou alguns conceitos muito importantes da psicologia. O que me pareceu fantástico! Além das disciplinas básicas, como português, matemática, física, química, geografia, história e inglês, tinha aula também de saúde pública, filosofia e psicologia. Bons tempos!

Certo dia, perguntei à professora Sabrina como era o dia a dia nela como psicóloga e ela me descreveu sua rotina: Sabrina trabalhava em um hospital particular da cidade atendendo pacientes terminais. Pessoas com doenças graves e incuráveis. Ela disse que cada dia era literalmente vivido como um único dia, porque no dia seguinte ela não saberia se o paciente estaria mais lá. Sabrina fazia terapia sistêmica (que envolve as famílias, mas também para casais e processos individuais). Ela disse outras coisas, mas sem dúvida a que mais me marcou foi essa: cuidar de pessoas que vão morrer.

Ok, sai do colégio, esperei alguns anos para começar a estudar  Marketing na Universidade Anhembi Morumbi.Porque Marketing? Eu já trabalhava com marketing de serviços e achei que seria uma boa. E foi. Por 8 anos trabalhei com isso, mas depois de fazer uma pós graduação em Neurociência aplicada à educação, veio o desejo de estudar Psicologia, e foi exatamente isso que eu fiz: me matriculei no curso.

E 19 anos depois daquele bate-papo com a professora Sabrina, eis que me vejo novamente falando sobre cuidar de pessoas doentes. Mas me refiro aos doentes da alma. As pessoas que sofrem de dores emocionais, sejam elas causadas por doenças físicas ou pelo abandono.

Estou no primeiro ano do curso, faltam no mínimo mais 4 anos ainda, pode ser que no meio do caminho eu vá para outra área… Mas como não sei o que pode acontecer (e nem quero, se não serei consumida pela ansiedade), quero aproveitar o momento e estudar tudo o que eu puder sobre esse assunto.

Por a caso (se é que ele existe), fui à Livraria Cultura na Avenida Paulista com uma amiga e encontrei o livro “A morte é um dia que vale a pena viver”. Sem dúvidas peguei ele e comecei a ler no dia seguinte.

A autora, Ana Claudia Quintana Arantes, é uma médica formada pela USP, com residência em geriatria e gerontologia no Hospital das Clínicas da FMUSP. Ela fez pós-graduação em Psicologia – Intervenção do luto pela Universidade de Oxford.

O curriculum dela é gigante, e como ela bem descreve em seu livro, certificados não vale nada se não houver amor pela causa. Quis apenas fazer uma breve apresentação porque o trabalho dela é incrível.

Ela comenta que as pessoas costumavam ficar chocadas quando perguntavam o que ela fazia da vida: “Sou médica, cuido de pessoas que morrem”. Geralmente as pessoas não ficam à vontade para falar sobre a morte, ainda que todos saibam que a única certeza na sua vida é que elas vão morrer um dia.

Compartilho que eu entendo a importância de se dedicar a esse tipo de trabalho e que por mais difícil que seja, precisamos falar sobre a morte (como veremos a seguir, não me refiro apenas a morte de um ente querido, temos que nos lembrar das mortes simbólicas: o namorado que nos largou, o emprego que deixou de ser dos sonhos…).

Passamos a vida tentando aprender a ganhar. Buscamos cursos, livros, milhares de técnicas sobre como conquistar bens, pessoas, benefícios, vantagens. Sobre a arte de ganhar existem muitas lições, mas e sobre a arte de perder? Ninguém quer falar a respeito disso, mas a verdade é que passamos muito tempo da nossa vida em grande sofrimento quando perdemos bens, pessoas, realidades, sonhos.

Vivemos buscando discursos que nos mostrem como ganhar. Como conquistar o amor da nossa vida, o trabalho da nossa vida. Acredito porém que ninguém se inscreveria num curso que se chamasse: “Como perder bem” ou “Como perder melhor na vida”.

No entanto, saber perder é a arte de quem conseguiu viver plenamente o que ganhou um dia.

Então cada perda existencial, cada morte simbólica, seja de uma relação, de um trabalho, de uma realidade que conhecemos,  busca pelo menos três padrões de sentido.

O primeiro diz respeito ao perdão, a si mesmo e ao outro.

O segundo é saber que o que foi vivido de bom naquela realidade não será esquecido.

O terceiro é a certeza de que fizemos a diferença naquele tempo que terminada para a nossa história, deixando um legado, uma marca que transformou aquela pessoa ou aquela realidade que agora ficará fora da sua vida.

Sem a certeza do fim, sem a certeza de que algo acabou, é difícil partir para outro projeto, para outra relação, para outro emprego. Ficamos presos em um limbo do “deveria”, do “poderia” e no “e se?”.

Só conseguiremos passar para a próxima etapa se tivermos uma dessas três confirmações: de que perdoamos, deixamos nossa marca ou levamo a história conosco, tirando dela os aprendizados possíveis.

A vida é feita de histórias. O que eu fiz com a minha?

“Chegou o instante de aceitar em cheio a misteriosa vida dos que um dia vão morrer.” – Clarice Lispector

Você já parou  para pensar que é só pela consciência da morte que nos apressamos em construir esses ser que deveríamos ser?

Se você quer viver uma vida com mais consciência, lembre-se que ninguém pode nos fazer infelizes, apenas nós mesmos.

Cuidados paliativos: o que são?

“Cuidados paliativos consistem na assistência, promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tradamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.” – Organização Mundial da saúde.

O sofrimento de perceber a nossa mortalidade não começa somente no processo de morrer. Esse assombro já está presente na possibilidade de um diagnóstico, quando estamos apenas na expectativa de receber o resultado de um exame, por exemplo.

O percurso entre a certeza do diagnóstico de uma doença ruim e incurável e a morte é acompanhada de sofrimento. Sofrimento, porém, é algo absoluto, único. Totalmente individual.

Uma pesquisa realizada em 2010 pela publicação britânica The Economist avaliou a qualidade de morte em quarenta países. O Brasil ficou em terceiro lugar como pior país  do mundo para se morrer. Preocupante.

O processo de morrer pode ser muito doloroso para a maioria das pessoas, principalmente por conta da falta de conhecimento e habilidade dos profissionais de saúde ao conduzir esse tempo sagrado da vida humana.

Nesse processo, quando temos à nossa disposição uma equipe de saúde de fato habilidosa para conduzir os cuidados com o tempo que nos reta, mesmo que seja pouco, então teremos a chance incrível de sair dessas existência pela porta da frente, com honras e glórias dignas de grandes heróis, reis e rainhas da própria vida.

“Cuidados paliativos é tratar e escutar o paciente e a família. É dizer ‘sim, sempre há algo que pode ser feito”, da forma mais sublime e amorosa que pode existir. É um avanço da medicina.” Mensagem deixada por uma filha que se despediu do pai.

Empatia ou compaixão

“Não me deixe rezar por proteção contra os perigos,
mas pelo destemor em enfrentá-los.

Não me deixe implorar pelo alívio da dor,
mas pela coragem de vencê-la.

Não me deixe procurar aliados na batalha da vida,
mas a minha própria força.

Não me deixe suplicar com temor aflito para ser salvo,
mas esperar paciência para merecer a liberdade.

Não me permita ser covarde, sentindo sua clemência
apenas no meu êxito, mas me deixe sentir a força da sua mão quando eu cair.”

Rabindranatha Tagore

Quem diz ter medo da morte deveria ter um medo mais responsável. Quem sabe poderíamos dizer que deveriam ter respeito pela morte.

O medo não salva ninguém da morte, a coragem também não. Mas o respeito pela morte traz equilíbrio e harmonia nas escolhas. Não traz imortalidade física, mas possibilita a experiência consciente de uma vida que vale a pena ser vivida, mesmo que tenha sofrimentos aliviados, tristezas superadas por alegrias, tempo de beber para celebrar, de fumar para refletir, de trabalhar para realizar-se. Mas tudo na medida boa, na medida leve.

Podemos tentar acreditar que enganamos a morte, mas somos ignorantes demais para isso. Não morremos somente no dia da nossa morte. Morremos a cada dia que vivemos, conscientes ou não de estarmos vivos. Mas morremos mais depressa a cada dia que vivemos privados dessa consciência.

Morremos antes da morte quando nos abandonarmos. Morremos depois da morte quando nos esquecerem.

Priscila Stuani
ψ Psicóloga clínica
CRP: 06/193357
WhatsApp para agendamento de sessão: (11) 94377-7677
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Tags : consciencialutomortePriscila Stuanitratamento paliativo
Priscila Stuani

Autora Priscila Stuani

Priscila Stuani, Psicóloga Clínica, Planejamento e Transição de Carreira. Com uma abordagem humanista existencial fenomenológica, contribuo na promoção do autoconhecimento, autenticidade e bem-estar. Junte-se comigo na busca de significado e sucesso pessoal.